domingo, dezembro 07, 2008

PELO MENOS 26 MIL ANIMAIS FORAM AFETADOS PELAS ENCHENTES EM SANTA CATARINA; ENTIDADES DE SÃO PAULO ORGANIZAM CAMPANHA PARA DESABRIGADOS

Tobias Mathies/AFPPhoto

Equipe de resgate em busca de sobreviventes eles precisam de ajuda

por Flávia Gianini

Durante 11 dias, um grupo percorreu a região de Itajaí, a mais afetada pelas chuvas em Santa Catarina, atrás de animais. Era uma caçada do bem. Na peregrinação, conseguiram salvar 80 bichos. Todos eles estavam muito assustados. Alguns, presos em quintais de casas abandonadas. Outros, sobre telhados e carros. A maioria passava frio, fome e sede. Houve casos de cães afundados no meio da lama.


Eles foram alojados no canil da ONG Viva Bicho, que já soma um total de 650 animais. Para complicar a situação, a sede da entidade corre sério risco de desabar. "Isso parece um pesadelo", desabafa Bianca Jung, 26, secretária da organização.


Vítimas silenciosas da tragédia, cerca de 26 mil animais domésticos foram afetados pelas enchentes, estima a Rede Catarinense de Solidariedade aos Animais (Resa). Analista de ações para catástrofes, o veterinário Werner Payne, da ONG Veterinários Sem Fronteiras, sobrevoou com a Defesa Civil a zona interditada do complexo do Baú, a mais atingida por desmoronamentos.
Cem mil animais, entre aves, porcos e bois, continuam presos na região, segundo estimativa do especialista. Muitos morreram afogados e soterrados.
"A água baixou e agora é possível ver os corpos jogados. Há ainda centenas deles vagando pelas ruas, famintos e com sede", conta Halem Nery, 61, coordenador da Resa e secretário do Instituto Ambiental Ecosul. Existem bichos presos em casas vazias. Outros estão ilhados em árvores, sem poder se mexer ou se alimentar.


Em meio à tristeza, às mortes e ao sofrimento, a solidariedade promove a esperança. Entidades de defesa de São Paulo começam a organizar campanhas para ajudar os animais em Santa Catarina.
Até a noite da última quinta, cinco casos de leptospirose tinham sido confirmados. Amanhã, uma nova campanha de vacinação em massa deve ser realizada. Para conseguir salvar a vida dos animais abandonados, as entidades contam agora com mais um capítulo da solidariedade humana.


O que doar:

Água potável

Caixa de transporte

Casinha

Coleira

Material de higiene

Ração

Remédios (antibióticos, sarnicidas e anestésicos)

Utensílios médicos (máscaras, luvas, seringas e agulhas)

Vacinas
Onde: Casa do Consolador (http://www.casadoconsolador.com.br/). Rua Guapiaçu, 75.

Pet Center Marginal (http://www.petcentermarginal.com.br/). Av. Presidente Castelo Branco (marginal Tietê), 1.795, tel. 2797-7400.

Posto de Coleta. Av. Marechal Mario Guedes, 301, Jaguaré, tel. 3768-1977


Melk, uma sobrevivente


por Alencar Izidoro, enviado especial a Ilhota (SC)

Entre os sobreviventes da destruição provocada pelas chuvas em Santa Catarina está a poodle Melk, de 7 meses. Como moradora do Alto do Baú, área de extremo risco arrasada por deslizamentos em Ilhota, ela tinha quase tudo para virar mais um pedaço de carne soterrado pela terra -conforme se percebe pelo cheiro dos animais mortos exalado nas imediações. Ou então, com sorte, seria mais um das dezenas de bichos que ainda perambulam no cenário caótico, afogando as patas no meio da lama, ilhados, perdidos, sem dono.


O resgate de Melk foi feito de helicóptero. A proeza pode ser atribuída mais à sua dona, Morgana Cath, 16, do que às próprias equipes de busca dos bombeiros ou das Forças Armadas. A ordem dada naquela terça-feira era para que toda a vizinhança se preparasse para ser transportada pelas aeronaves. O aviso era direto: todo mundo só poderia levar a roupa do corpo e os documentos pessoais, sem nenhuma bagagem, porque não havia espaço -e há limite de peso no vôo.


Morgana começou a chorar ao pensar que uma das maiores riquezas da família -a cadela adquirida por R$ 350 numa feira em Blumenau- poderia ser rejeitada. A adolescente não arredou pé. O bicho não saiu do colo da dona. Iriam as duas ou não iria ninguém. A menina não só foi convincente como, para arrematar, ainda carregou para dentro do helicóptero, um tanto de mansinho, os brinquedos e os produtos de higiene de Melk.


O salvamento da cadela não acabava por aí. No abrigo da Ilhotinha, um dos que recebem as pessoas que ficaram sem teto por conta das enchentes, a família foi bem recebida, porém as normas também eram claras: cachorro, gato, qualquer animal doméstico, só do lado de fora. "De jeito nenhum, ela vai se perder", argumentou Morgana.


O apelo mais uma vez fez da cadela uma privilegiada. "Consultamos as pessoas que estão no mesmo ambiente e que são parentes. Como elas não se importaram, resolvemos abrir uma exceção", conta Eli Terezinha de Souza, 41, servidora, que é uma das líderes da instalação.
Desde a última semana, Melk ocupa a mesma sala de aula da escola -improvisada como alojamento- onde sua família passa noite e dia. Virou até xodó da criançada.

"Eu não a deixaria de jeito nenhum", diz a dona, que não desgruda da cadela.

Nenhum comentário: